segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Janela.

Sem tempo para edições e sem vontade também... Ultimamente tenho tido preferencia em postar as coisas como elas surgem em minha mente...


“Maldito sol... Saia de meu quarto agora!”.

Todas as manhãs, eu escutava esta frase, que transpassava as paredes da casa vizinha e adentrava a minha... E como todos os outros dias, eu olhava por entre as frestas de minha janela e encontrava um mundo estranho. O mundo do “outro” sempre é estranho!

O costume de mergulhar neste mundo; foi adquirido alguns dias após minha mudança para a nova casa. Por hora... Já se passavam alguns anos com esta rotina. Apesar de não me sentir mal, meus dias eram compostos por melancolia e solidão, não que isto fosse um problema para mim. Imagens e lembranças, manias, muitas manias. Que por muitas vezes; tidas por mim mesmo como loucuras... E uma de minhas manias era bisbilhotar o mundo alheio... Isto era algo que me divertia. Não que eu fosse fazer uso do que via e sabia. Era só por diversão. Não tinha o costume de sair, passava mais tempo dentro de casa e não conhecia muitas pessoas. A única que eu conhecia bem era o vizinho que se negava a gostar do sol. Nunca entendi o porque disto. Este vizinho residia o apartamento de numero trinta e dois, que por sua vez, localizava-se exatamente à frente do meu. O edifício não era alto, muito menos luxuoso. Simples e convidativo. De aparência confortável, mas ainda sim... Precisando de umas reformas. Quando me mudei para este edifício, tive que me acostumar com a loucura alheia.

Havia algum tempo que minha irmã ajudava-me a encontrar um local, que como ela mesmo dizia, mais adequado para mim.

O escolhi por sua cor, aliás... Por todas as suas cores. Gosto de coisas que pareçam ter vida. Com fachadas vermelhas, ladrilhos amarelos e detalhes em azul. Suas escadarias em formato caracol, nas mesmas cores e janelas de madeira, foram às coisas que mais gostei. Os aposentos não são grandes, mas é o suficiente para mim. Em meu quarto eu pendurava um quadro pintado à mão, por minha irmã. Um girassol em meio ao nada. Eu o deixava perto da janela, para que pegasse os primeiros raios de sol. De fato não era uma planta, mas era bom pensar na vida que um girassol leva. Eles gostam de sol, nada mais justo que deixá-lo próximo a janela. Esta mesma que eu observava o velho gritar o dia todo. Desta mesma também dava para ver o jardim. Eu gosto do jardim, é bem florido e é um lugar calmo, apesar de passar pouco tempo nele. Fazia parte de meu dia ir ao jardim. Passava exatas duas horas por lá e depois retornava ao meu quarto, a minha janela. Era engraçado olhar as crianças brincarem entre as flores do jardim. Todas com roupas brancas; sujavam-se e corriam de suas mães, que se vestiam de modo um tanto que estranho. Todas as noites eu recebia visitas. Algumas pessoas legais, outras que recebia somente por educação, estas me bombardeavam com perguntas... E odeio perguntas! Pessoas que tentavam se aproximar de mim, mas nada adiantava. A verdade é que gosto mais da solidão. De observar o velho barbudo e caquético que divertia minhas manhãs... Outro dia ele tentou se jogar de seu apartamento. Isto não foi algo que me divertiu. Fiquei mesmo preocupado. Perguntava-me o porque ele era assim. Por muitas vezes o vi passear pelos corredores do prédio, cantando e dançando, feliz e sorridente. Sorriso vazio, sobrando espaço de dentes retirados. A velhice chegara e talvez ele tenha enlouquecido. Ele pregava peças nos moradores e brincava com um cachorro de rua, que ele conseguiu com muito custo, a permissão para deixá-lo nas dependências do edifício. Outra coisa que gostava de observar além da vida alheia, era o entardecer. Não sei se era um privilégio meu, ou era o ângulo de visão para todos... Mas a visão que eu tinha de minha janela era maravilhosa! As cores que tomavam aquela vastidão azul transformavam-se em uma mescla de roxo, vermelho e laranja. Simplesmente perfeito! A noite era iluminada pelas luzes da cidade, que por sua vez ditavam as cores também. Por falar em noite... Lembro-me das regras. Após as vinte e uma horas, não se ouvia um ruído, nem mesmo um ranger de porta. Somente o barulho da rua e das redondezas. Uma paz! Coisa que me agrada muito também.

Este tempo eu ocupava escrevendo. Os pensamentos “voavam” naquele silencio que atravessava a noite, servia como inspiração para minhas estórias. Não as divulgo a ninguém. Não busco reconhecimento, é por puro prazer de guardar os pensamentos em papéis. Quem sabe um dia estas venham a serem reconhecidas e divulgadas, mas não por mim. Meu cotidiano não se resumia apenas nestas coisas... Eu também viajava, não muito, mas ainda sim não era por completo solitário. Sempre que possível minha irmã; a mesma que me presenteou com o quadro, vinha me buscar para irmos a praia ou ao cinema. Tínhamos uma boa convivência. Ela me trata muito bem! E se preocupa muito comigo. Vejo isto em seus atos. Sempre perguntado se estou bem, ou se preciso de algo, atenciosa e meiga, faz com que eu me sinta muito bem ao seu lado. Sou apaixonado pelo sorriso dela. Branca como uma folha de papel, me dá vontade até de escrever nela. Gostaria que ela morasse comigo, mas todas as vezes que a convido para minha casa, ela inventa alguma desculpa. Isto não diminui o meu amor por ela. Pois sei que cada um leva uma vida diferente. Por fim sempre retorno ao meu quarto... E por muitas vezes me pego observando o quadro... Certas vezes tenho vontade de me mudar, mas não sei o que há com aquele edifício... Parece existir algum encanto, algo que me faça ser prisioneiro dele. De fato...Nem tudo é um mar de rosas. Por muitas vezes tive a impressão de que alguém invadia meu quarto... Muitas vezes sonhei com isso. No sonho alguém abria a porta, me amarrava e me forçava a tomar um remédio. Acordava assustado e via que nada havia acontecido. Isto não influenciava na minha vontade por ares novos. Eu pensava em me mudar pelo simples fato de conhecer lugares novos, pessoas e talvez até um novo “velho barbudo”, que por sua vez teria outros tipos de loucuras. Enfim... Foi como já citei... Este edifício me encanta. Sinto-me bem em residir nele... Suas cores, forma, pessoas que também residem nele e todo o resto me atraía... Até mesmo o nome, que acho um tanto engraçado... Todas as vezes que olho aquele letreiro, tenho vontade de gargalhar. Queria ter a criatividade de quem batizou este edifício de MANICÔMIO. Nome engraçado não?

3 comentários:

Unknown disse...

primeira historio q eu leio sua, muitooo boa, vc escreve muitoo beem *-*

Unknown disse...

mano, mto legal! curti
abraço!

Leticia disse...

UAU! Brilhante!